sábado, 16 de junho de 2012

Nosso Lar


                       
Direção e Roteiro: Wagner de Assis
Elenco: Rosanne Mulholland(Eloísa), Paulo Goulart(Genésio), Othon Bastos(Governador), Fernando Alves Pinto(Lísias), Renato Prieto (André Luiz)    
Fotografia : Ueli Steigner
Trilha Sonora : Philip Glass

Para onde vamos? E de onde viemos? Estas perguntas sempre assolaram o homem desde a antiguidade.  É o que este ambicioso projeto do quase iniciante Wagner de Assis (A Cartomante) se propõe a mostrar. Concebido através de um orçamento milionário de R$ 20 milhões, ‘Nosso Lar’(DVD –R$ 39,90 e Blu – Ray – R$ 39,90; Fox Filme do Brasil) é baseada no livro honômino do médium Chico Xavier, o qual segundo os adeptos do Espiritismo foi ditado pelo espírito do médico André Luiz (Renato Prieto),o que cria um interessante discurso competente na obra, já que o narrador é alguém que voltou do além.
Assim, André Luiz nos narra que depois de abusar nos vícios do álcool e do cigarro morre, e posteriormente vai parar numa zona transitória, o ‘umbral’, uma espécie de purgatório. E depois  de se arrepender é resgatado pelo simpático Lísias (Fernando Alves Pinto) e pelo ministro Clarêncio (Clemente Viscaíno), que o levam para uma cidade espiritual chamada Nosso Lar.  E nesta nova realidade André Luis terá que se adaptar e aprender a valorizar o trabalho incessante para evolução. Este labor na construção de um novo ser que Wagner de Assis tentou mostrar durante toda a projeção, e a qual é explícita na frase de Tobias (Rodrigo dos Santos) “ao trabalho sempre ao trabalho”.
E para mostrar esta evolução, o diretor apresenta transições inteligentes que mostram as alterações do “estado” de espírito de André Luiz. Como por exemplo, àquela cena onde a fumaça do cigarro uni a cena do bar com a do umbral, ou no final quando o médico volta a sua casa e se transfigura na zona purgatorial depois de descobrir a situação de seus familiares. Mas apesar disso, na direção Wagner de Assis apresenta – se bastante burocrático, não ousando muito nos planos e ainda nos apresenta muitos establinsh shot( plano que mostra local do acontecimento) o que cansa o expectador que é apresentado aos mesmos locais sucessivamente, como por exemplo a casa de Laura (Ana Rosa), que é mostrada quase três vezes seguidas em apenas uma sequência
Aliás establinsh shot é um vicio dos produtores oriundos da central Globo de produção, como Assis e outro famoso diretor, Daniel Filho.  No entanto vale ressaltar que é normal e saudável em alguns momentos o establinsh shot, já que queremos ver os detalhes desta cidade espiritual, que põe a prova a eficácia da empresa canadense Inteligent Creatures famosa por ter criado o universo de ‘Wachmen’, e que tem a responsabilidade de construir Nosso Lar. E nesse quesito os efeitos visuais se destacam, veja, por exemplo, a imponência do palácio do governador, do ministério da comunicação, e da palestra da ministra Veneranda que nos parece bem palpável neste universo onde a engenharia e o magnetismo se dialogam.  A direção de arte cria ‘Nosso Lar’, de uma forma que mais parece uma Brasília high tech, mas o que é justificado na fala bem –humorada de Lísias que diz que em breve reencarnariam espíritos com essa tecnologia para construir a capital tupiniquim
A direção de arte também é um dos pontos alto do filme, veja, por exemplo, o figurino todo rasgado e descontruido de André no umbral, e das roupas coloridas de forma fluídica na cidade espiritual, ou  por exemplo como a casa de Laura num tom azul marinho dá uma sensação de aconchego. A trilha de Glass, no entanto é burocrática como a direção, e oscila durante a projeção, como por exemplo, a música do umbral que pouco aterroriza. No entanto grande acerto do compositor é a trilha na cena memorável do resgate as vítimas da segunda guerra mundial, aliás, esta cena é um acerto de toda equipe de produção.
Mas o grande problema da obra reside na narração, que funciona bem em apenas dois momentos: Na oração do governador, e quando os ministros Emmanuel (Wenner Shunemann) e Clarêncio discutem o livro que André acabara de escrever. No entanto a narração dá um tom de pregação para o filme, o explica demais e que o deixa cansativo. Portanto o formato do livro, que foi transferido para o cinema não funcionou. As cenas do umbral foram as mais afetadas, pois se por exemplo, o cross – over humaniza o Capitão Nascimento em ‘Tropa de Elite’, em ‘Nosso Lar’ a narração tira toda a tensão do umbral, e por isso os espectadores nunca entram na história. O público apenas contempla ‘Nosso Lar’ sem realmente acreditar nas dificuldades do protagonista.
 O estreante no cinema Renato Prieto incumbido de viver o médico faz uma interpretação segura, apesar de ficar muito preso ao roteiro. Os atores globais Paulo Goulart, Ana Rosa e Wener Shunemann fazem boas e simpáticas participações. E Fernando Pinto consegue construir o tom bem humorado de Lísias, presente no livro.
Com cenas elegantes, Wagner de Assis (A Cartomante) faz sua verdadeira estréia no circuito comercial e realiza um filme de 20 milhões de reais, e espero que os filmes brasileiros daqui pra frente ousem na produção como fez Assis.  No entanto a dúvida que fica, é agora com o sucesso do filme que atraiu 4 milhões de pessoas nos cinemas, como que será a continuação? Já que a partir dos próximos livros da série ‘A vida no mundo espiritual’ nos trás um André Luiz mais preocupado em descrever os trabalhos no astral, do que efetivamente ser um personagem principal da história, e construir uma trama narrativa.

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